“Memória do passado é herança a agradecer, a conservar e a valorizar”

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A morte de um herói


A morte de um herói


I
Nós vivemos neste mundo
Como a luz acesa ao vento
Vivendo entre amigos
Sem saber do pensamento
Que impera em certos homens
De caráter tão violento.
II
Entre homens de caráter
Coração puro e bondoso
Sem máculas e sem vaidades
De sentimento amoroso
Viveu aqui nesta terra
O pobre José Cardoso.
III
Vivendo em grande pobreza
Sofrendo desde menino
Era humilde e caprichoso
Porque Deus lhe dera tino
Viveu até os 20 anos
Na vila do Doce Fino.
IV
Com a idade de 20 anos
Quando então foi convocado
Pro serviço militar
Pra Lapa foi destinado
Obediente como era
Sempre foi um bom soldado
V
Quando foi mobilizado
O Brasil estava em guerra
Lá se foi ele pra Europa
Defender a nossa terra
Transpondo vale e montanha
Do alto mar até a serra
VI
Lá na Itália o Cardosinho
Manejou o seu fuzil
Mostrando pro mundo inteiro
A sua fibra viril
E a própria vida arriscando
Em defesa do Brasil.
VII
No além-mar José Cardoso
Soube honrar a nossa historia
Mostrando aos brasileiros
Todo honra e toda glória
E trazendo no fuzil
O emblema da vitória.
VIII
Chegando aqui no Brasil
 No seu rancho foi morar
 Continuando a velha luta
Começou a trabalhar
Até que um certo dia
Resolveu enfim casar.
IX
Já passados muitos anos
 Quando era pai de família
Tinha ele muitos filhos
Nem sabe que estrada trilha
Tinha neurose de guerra
No qual o sofrer se empilha
X
A pobreza tomou conta
Da família e do seu lar
Seu ranchinho enfumaçado
Já preste a desabar
Porém o pobre coitado
Continuava a trabalhar.
XI
Ninguém mais o conhecia
Ninguém mais o dava atenção
Recorreu aos seus direitos
Com os chefes da nação
Pois era expedicionário
Mais só reclamou em vão
XII
Um dia José Cardoso
Arranjou algum cobrinho
Foi á venda pra comprar
Comida para seus filhinhos
Que semi-nus esperavam
A porta do ranchinho.
XIII
Bem contente ele voltava
Com sua sacola na mão
Tinha comprado fubá
Mandioca, sal e feijão
Queria dar aos seus filhinhos
Uma boa refeição
XIV
Numa curva do caminho
No furor da escuridão
Vinha cantando contente
Com magoas no coração
Quando então foi atacado
Por alguém  de arma na mão
XV
Foi abatido a pedradas
A faca e bala certeira
Sendo seu corpo encontrado
No meio de uma capoeira
Cravado de bala e faca
Coberto de sangue e poeira
XVI
Assim acabou a vida
Do pobre expedicionário
Que lutou pelo Brasil
Honrando seu calendário
Morrendo nas mãos de feras
Que cumpriram o fadário.
XVII
Hoje chora uma viúva
Chorando os órfãos também
Lamentando a triste sorte
De um lar que pai não tem
Sua alma foi pro céu
O que pela Nação.
XVIII
A você José Cardoso
Meu adeus de coração
Que os anjos lá do céu
Te cantem bela canção
Agradecendo por nós
O que fez pela Nação.


          Fato ocorrido na localidade de Doce Fino, no ano de 1962, contado em verso por João Santana Pinto.


Rancho do Cardosinho - José Cardoso de Oliveira Expedicionário assassinado em 1962




Esta cruz simboliza o local onde seu corpo foi encontrado. 


Rancho do Cardosinho
Este quadro foi pintado pelo meu amigo Dr Leslie  Marc DHaese, e hoje se encontra no 
Museu de Quitandinha.

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